O Zé Maria e eu fomos criados
com a minha avó. Eu, até aos sete anos e ele até aos treze. Depois do
passamento toda a nossa vida se alterou e sem nos continuar a não faltar o
essencial, as nossas vidas foram alteradas porque já não havia as saias da avó.
O que vou contar é mais ou
menos verdadeiro.
Um dia, à hora de jantar,
o meu irmão, depois de ter uma entrada livre, disse:
-Para o mês que vem
começam as festas da queima das fitas, na Universidade.
-Sim? E depois?- disse lá do fundo o meu pai.
-É, gostava de ter uma
capa e uma batina. Afinal já ando na Universidade e além disso quase todos já
têm.
O trajecto da colher de
sopa entre o prato e a minha boca ficou a meio caminho, depois de ouvir o Zé
Maria. Fixei os olhos no prato e esperei pelo contraditório, como era normal.
Passados uns segundos ouço uma voz, não de trovão, mas seca:
-Não sabia que agora para estudar era preciso
uma capa e batina !
Olhei de soslaio para o
Zé e reparei, pela cara dele, que não iria responder mas que, de certeza, não
ficaria por ali o assunto, como era costume. Quando nos cruzamos disse
baixinho: -Devia ficar-te bem mas, pelos vistos, é melhor arquivares.
-Isso pensas tu, Anne. Vais
ver e não esperes sentada.
Fiz o meu raciocínio e concluí que ao dizer
isto ele já tinha o problema solucionado, como era usual. Passados uns dias,
estava eu e a minha mãe a por a mesa para jantarmos quando surge o Zé Maria
“fardado”. – Eu fiquei estática e a minha mãe quase que deixava cair os pratos.
O meu pai, que também estava por perto, olhou-o de cima para baixo, e
vice-versa, mas não disse nada. À mesa, o silêncio não era o normal. Até que a
minha mãe, para abrir o assunto e ao mesmo tempo dar a entender que gostou de o
ver de capa e batina, disse que lhe ficava bem. Apanhando a boleia, o meu pai
falou e disse:
-Andas a viver bem! Dás
explicações ou andas outra vez metido nos inquéritos?
- Nem uma coisa nem
outra. Pedi a farda a um colega meu para tirar uma fotografia no “Salvador”, na
rua de Santa Catarina.
Fiquei de boca aberta.
Olhei para a cara de todos e ri-me cá para os meus botões. Pensei: afinal não
me enganei. O Zé Maria deu a volta a todos. Estou em pulgas para saber o
desfecho desta história.
-Eu disse para não esperares
sentada. Vamos aguardar, porque dentro de dias tenho a fotografia.
Passados uns dias ao
jantar, a voz falou:
-Amanhã tens aulas à
tarde?
Depois de uns segundos de
espera o Zé Maria respondeu:
-Por acaso amanhã não
tenho.
-Se tivesses é que me
admirava. Passa amanhã por volta das 4 horas na Gentleman, disse meu pai.
Assim é a história do Zé
Maria e a sua capa e batina, mas a fotografia que existe é verdadeira: a capa
não é a dele, mas as outras já são a sua capa e batina, de que precisava para
estudar !!!!
“Quem quer bolota trepa.”
AnneChrist