quarta-feira, 25 de maio de 2016

O Ambrósio perdeu o avião?!!!!





Não digo todos os dias, mas quase, continuamos a encontrar-nos na nossa Cultura. Evito dizer Universidade porque infelizmente ainda há quem olhe de esguelha ou de soslaio para nós, talvez pela idade ou por admiração, com uma exclamação interior :“como é possível?”
Mas vamos ao que interessa. Sempre conheci o Ambrósio como aquela pessoa que, por exemplo, entendia que oito horas eram oito menos dez ou oito menos cinco. Daí a minha exclamação e espanto, no bar da Cultura, quando tomávamos um cafezinho.
-Sabes Anne, começou ele, aqui há uns anitos tive de ir a Lisboa, aos mouros, e cheguei lá muito depois da hora. Tive que ligar para os avisar do meu atraso, mas sem dar justificação.
-Não estou a conhecer-te. Falhares por falta de horário? É novidade. Continua, disse eu.
-Quando acordei, olhei para o relógio e só tive tempo de tomar um chuveiro (não me perguntes se me limpei ou não), pegar na mala que já estava pronta e “zarpar”.
-Sempre o mesmo, tudo organizado com antecedência, mas falhaste, para minha admiração, disse eu.
-Entrei por aquele aeroporto a correr e encontrei dois funcionários no balcão do check-in que me viram a correr, tendo um deles ido embora. O que ficou, depois  de eu lhe mostrar o bilhete, olhou para mim e disse: “chegue aqui se faz favor”.
-Conseguiste - como dizíamos - “safar-te”?
- Qual quê, disse ele. A minha cara alegrou-se e, por já não ver ninguém no aeroporto, pensei em abraçá-lo, como prova de agradecimento. A minha face, não sei, mas deve ter mudado de cor, aspecto, eu sei lá.
-Mas afinal foste ou não? Disseste que tinhas perdido o avião, disse eu ainda.

-Não, não fui. Na parede do dito balcão, havia um quadro tipo “naif” com um avião já no ar e um passageiro com a gravata de lado, talvez efeito do vento, e a mala semiaberta com a roupa a sair, a correr atrás dele.
Sorri. - Até deve ser engraçado ver esse quadro, disse.
-Pois é engraçado, mas agora ouve: o funcionário olhou para mim apontou o dito e as respectivas legendas e disse: foi o que lhe sucedeu a si.
Fiquei de boca não digo aberta mas quase, a olhar para o Ambrósio e fui interrompida com a pergunta.
-Sabes o que dizia a legenda?.
Eu disse: “Não deixe que lhe suceda o mesmo. Esteja sempre no horário”. Sabes Anne, depois disto olhei para o lado, mas o funcionário que me pareceu ser o meu salvador, deixou-me ali só, a fixando com raiva o dito “naif”.
-E depois?
-Depois reservei no voo seguinte, que por acaso tinha lugares, deduzo eu, para os trapalhões ou os preguiçosos, como eu. Fui até ao café e, apesar das muitas voltas, dava sempre de “caras” com o dito esquema que estava por trás do balcão.
-Mas ainda não me disseste porque perdeste o avião, se não posso fazer juízos errados sobre ti, como já não sendo o que eras no antigamente.
-Eu conto. Na véspera tive um jantar em casa de uns amigos e distraí-me com as horas e talvez com o “alvarinho”. Não é meu costume, mas calhou.
Rimo-nos muito e lá fomos para a aula de literatura (...)

Ambrósio

A burra de ferro

Viana Coimbra vivia em Manaus e tinha uma filha, a Augusta, rapariga de tempera que gostava da festas  e comidas picantes. À mesa, os moleques alinhavam a taça de metal com manteiga assente em cubos de gelo e outra de vidro transparente lapidado cheio de frescas malaguetas. Trincava-as de forma provocatória, sem esgares, como se se tratasse de doces tâmaras e só parava quando o rubor ultrapassava o tolerável a uma rapariga prometida.

José, primo de Augusta, inicia em 1920, em Portugal, seu país, uma carreira promissora como empresário ligado à banca e aos transportes marítimos, o que o levou a viagens sucessivas ao Brasil, levando sempre os seus pertences e bens de mais valia,  como se de um amuleto se tratasse, numa  burra, antiga arca de ferro de família, até que, um dia, se compromete com Augusta culminando num banquete pomposo na Pensão Mericastro, na Foz.

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Prímula Matinal
 
 

Chá





...dos picos Namuli do rio Licungo, em suma, da Zambézia.
Não é só o elixir, mas a forma de conversar à volta da mesa, criando e recriando ideias.
Além dos mares este elixir foi equiparado ao de Ceilão.
Que pena estar em vias de extinção!

I.P.

sexta-feira, 13 de maio de 2016

Acto de inspiração



Vem, 
Dá conta de si,
Dá fio à meada
Não pára, solta-se
Invade, domina
Surpreende em lucidez
Transcende
Abre caminho
Gira o carreto
Dá distância à linha
Alonga-se, prolonga-se
Estaca um momento
Lê tudo  por dentro
Com encanto partido
Entre a cor do momento
E o momento vivido


Prímula Matinal




quarta-feira, 4 de maio de 2016

Memória em Chapéu Feminino







“Cappa, capucho, hat, chapeau”, chapéu, peça usada para cobrir a cabeça, seja em versão casual de boina confecionada em feltro ou no modelo mais glamoroso e ousado, tal como a capeline em organdi suiço, representou um acessório diferenciador para o visual feminino, marcando o estilo e a sofisticação do momento.
                                                                             


A Galega de Castro

Cruzamentos banais


Cruzamentos banais

Naqueles cruzamentos banais
De gente a pé, na rua, 
No café preferido, no bar concorrido,  
Na marginal, 
Voei para ver 

A mãe e o menino a jogar contra o vento
Estudantes sentados a branco e a preto
Pescadores tisnados de tantos poentes

Mais além 
Namorados enleados, contentes da vida
Gaivotas dormentes no colo do rio
Pairei e pousei

Fixei o olhar 
Na sombra e no limo das pedras do cais
E aí ficaria um tempo sem hora 
Não fora passar no meio de mim
A violoncelista esgotada 
com o saco do Lidl, abandonada da pauta, 
Esquecida de si.


Levantei vôo e parti.



 Prímula Matinal