sexta-feira, 11 de março de 2016

Avó


Em dias prazenteiros era observá-la, às tardes, antes da merenda, a deambular delicadamente pelo “Jardim do Cândido”, aquele brasileiro de torna viagem, pleno de intuição para os câmbios e papéis de crédito mas que tornou defunta a antiga muralha com o intuito de presentear a terra natal com um belíssimo e aprazível recinto arborizado, sobranceiro às serenas e flávias águas do Rio Tâmega.
Escutava a banda filarmónica que abarrotava o rendilhado coreto. E, tudo semelhante a uma praxe, sentava-se e dedilhava sobre a coxa direita, as marchas e as polcas, como se do seu piano se tratasse.
Percorria o Bairro da Madalena, acenando para a progenitora que àquela hora mirava os transeuntes da janela da sala, galgava a eito o magnífico legado da romanização do obreiro Optimus Princeps Imperador Trajano - tropeçando de quando em vez nas reminiscências do antigo balneário romano -, cruzava a azáfama do Arrabalde, e culminava a sua jornada na Ouriversaria da Madrinha, bem no âmago da Rua Direita.
Intervalando com a clientela, que nem duas tontas à galhofa, iam lendo os versos da formosa e delicada Bella, salpicados de humor e rima, até que o aroma a chá e torradas invadia o aposento, indicando pausa para lanche.
Pautou sempre o quotidiano com brandura e distinção, pilares espelhados nas sedosas feições, evocando quiçá Léa e Jacó…


A Galega de Castro





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