quinta-feira, 3 de março de 2016

O MEU OBJECTO DE ESTIMAÇÃO



Na Lunda Norte, em  inícios dos anos 50 do século passado, o trânsito de pessoas e bens entre Angola e o então Congo Belga, distante apenas  16 kms., fazia-se com toda a normalidade. O próprio correio recebíamo-lo através desta via e nunca por Luanda.
E foi exactamente a um indivÍduo que se dedicada a levar e a trazer o que mais interessava a um ou a outro lado, que eu adquiri um relógio,  no inicio de 1953, um relógio suíço ORIS. Foi, na verdade, o primeiro relógio que possuí, e adquirido com  o dinheiro  ganho por mim. Usei-o algum tempo até que, enamorado do relógio que meu pai usava, mais brilhante, com outras funções, tive artes de o levar a fazer a troca, apesar da sua renitência (pouco durou este relógio que me entusiasmou, pois só tinha a aparência). Meu pai passou a usá-lo diariamente e tinha-o no pulso quando, um ano depois, foi vítima de um fatal acidente. Desde esse dia e  sempre em perfeito estado de funcionamento, andou o relógio no pulso de  minha mãe,  durante toda a sua viuvez, até ao seu falecimento em 1990.
Voltou à minha mão, avariado e sem conserto, segundo me dizem. Ainda não desisti de o ver um dia a funcionar de novo, se encontrar um artista habilidoso e entusiasta de coisas antigas. Conservá-lo-ei, mesmo que tal se venha a verificar impossível, não pelo seu valor intrínseco mas pelo que ele  representa como elo inestimável  com os meus progenitores. Também pelas lembranças que me traz dos locais e dos tempos que vivi nos meus verdes 17 anos.

Porto, 02 de Março de 2016


ALFAVILA



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