Na Lunda Norte, em inícios dos anos 50
do século passado, o trânsito de pessoas e bens entre Angola e o então Congo
Belga, distante apenas 16 kms., fazia-se com toda a normalidade. O
próprio correio recebíamo-lo através desta via e nunca por Luanda.
E foi exactamente a um indivÍduo que se
dedicada a levar e a trazer o que mais interessava a um ou a outro lado, que eu
adquiri um relógio, no inicio de 1953, um relógio suíço ORIS. Foi, na
verdade, o primeiro relógio que possuí, e adquirido com o dinheiro
ganho por mim. Usei-o algum tempo até que, enamorado do relógio que meu
pai usava, mais brilhante, com outras funções, tive artes de o levar a fazer a
troca, apesar da sua renitência (pouco durou este relógio que me entusiasmou,
pois só tinha a aparência). Meu pai passou a usá-lo diariamente e tinha-o no
pulso quando, um ano depois, foi vítima de um fatal acidente. Desde esse dia e
sempre em perfeito estado de funcionamento, andou o relógio no pulso de
minha mãe, durante toda a sua viuvez, até ao seu falecimento em
1990.
Voltou à minha mão, avariado e sem conserto,
segundo me dizem. Ainda não desisti de o ver um dia a funcionar de novo, se
encontrar um artista habilidoso e entusiasta de coisas antigas. Conservá-lo-ei,
mesmo que tal se venha a verificar impossível, não pelo seu valor intrínseco
mas pelo que ele representa como elo inestimável com os meus
progenitores. Também pelas lembranças que me traz dos locais e dos tempos que
vivi nos meus verdes 17 anos.
Porto, 02 de Março de 2016
ALFAVILA
Bem vindo, ALFAVILE!
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