Talvez tivesse uns 10 anos (por aí) e andava então, de
caixa de sapatos na mão, furada de um dos lados, onde colocava o fundo de uma
garrafa de vidro branco, (para servir de lente) e no meio, uma vela que acendia
com muito cuidado. Entre a vela e a lente colocava, à mão, fotogramas que um
amigo meu cujo pai era projeccionista no cinema/teatro Sá de Miranda em Viana
do Castelo, lhe arranjava e ele me oferecia; com um lençol branco que a minha mãe
me emprestava, ali “projectava” as
imagens que iam saindo daquela improvisada máquina. Quando já tinha uma certa
experiência, comecei a convidar a família para ver aquelas “sombras” que para
mim (relembro) eram magníficas: e lá arrastava eu a caixa e lá mergulhava no
sonho que crescia....
Um dia o meu pai (não sei onde a foi comprar, talvez no Porto, creio) ofereceu-me, pelos
meus anos, uma verdadeira máquina de projectar que tinha uma manivela que se
accionava à mão, duas bobines e um
pequeno filme que vi vezes sem conta: no mesmo lençol enrugado e branco onde
tantas vezes vi as minhas “sombras” da caixa de sapatos, via, agora, nítidas e
grandes, figuras humanas que parava quando queria e passaram a fazer-me
companhia: tudo me parecia irreal, um verdadeiro sonho. E vezes sem conta
passei esse filme que vinha com a máquina, olhando para a lente donde saía a
poallha de luz.
De tudo que me encantou, só ficaram estas duas
bobines, (que originariamente eram até mais pequenas) uma que continha o filme,
a outra que o recebia, depois de passar por uns carretos.
E ainda hoje penso, com saudade, no que teria passado
pela cabeça de meu pai quando resolveu oferecer-me aquela máquina, e que alegria teria vivido quando a comprou, a transportou
do Porto até à Meadela, onde vivia, e ma ofereceu!? Ainda hoje penso,
acreditem!!! Que alegria foi a dele!?
Ainda hoje também, quando vou ao cinema, gosto de
ficar bem junto da cabine, donde sai aquela luz mágica que transporta as
imagens que me envolvem e fazem recordar !!!!
Desculpem parar, por aqui, o filme....
Porto, 24/02/2016
MANELITO
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