quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Já existo!









Dei conta que existia, um dia à tarde, à saída do portão de minha casa, o 119. Creio que tinha uns sete ou oito anos e, voltada para os plátanos do jardim em frente, que por acaso já me conheciam melhor a mim do que eu a eles, enumerei mentalmente, aquilo que seriam os meus dogmas:

  1. Não se pede nada aos pais, porque podem não ter meios para dar;
  2. Não se reclama a prenda de Natal e deve-se mostrar uma cara feliz;
  3. Os segredos não existem;
  4. A ninguém interessa se já sabemos andar de bicicleta;
  5. 1/4 de manteiga tem de dar para uma semana, para os três irmãos;
  6. O frango assado já  chega à mesa virtualmente partilhado; 
  7. A roupa de vestir vem das primas, excepto as sandálias 'franciscanas' que se ía buscar à fábrica do Tio Americo e, a seguir, vai para os pobres.
  8. Pão com fiambre é só nas festas, 
  9. Ida ao Sr. de Matosinhos - não se pede nada, mas sabe-se que vamos andar uma  vez no carrossel.
  10. Uma menina não conta anedotas, sobretudo do Bocage (a última vez que contei no sapateiro tinha cinco anos e meteram- me na escola). 
E assim construi as primeiras 'tábuas de lei 'da minha preciosa infância e me preparei, com uma perna às costas, para o mundo que veio a seguir.

Prímula Matinal

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