Dei
conta que existia, um dia à tarde, à saída do portão de minha casa, o
119. Creio que tinha uns sete ou oito anos e, voltada para os plátanos
do jardim em frente, que por acaso já me conheciam melhor a mim do que
eu a eles, enumerei mentalmente, aquilo que seriam os meus dogmas:
- Não se pede nada aos pais, porque podem não ter meios para dar;
- Não se reclama a prenda de Natal e deve-se mostrar uma cara feliz;
- Os segredos não existem;
- A ninguém interessa se já sabemos andar de bicicleta;
- 1/4 de manteiga tem de dar para uma semana, para os três irmãos;
- O frango assado já chega à mesa virtualmente partilhado;
- A roupa de vestir vem das primas, excepto as sandálias 'franciscanas' que se ía buscar à fábrica do Tio Americo e, a seguir, vai para os pobres.
- Pão com fiambre é só nas festas,
- Ida ao Sr. de Matosinhos - não se pede nada, mas sabe-se que vamos andar uma vez no carrossel.
- Uma menina não conta anedotas, sobretudo do Bocage (a última vez que contei no sapateiro tinha cinco anos e meteram- me na escola).
E assim construi as primeiras 'tábuas de lei 'da minha preciosa infância e me preparei, com uma perna às costas, para o mundo que veio a seguir.
Prímula Matinal
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