Estávamos a
14. Novembro.1789, numa pequena aldeia de Estremoz, a terra onde nasci,
S.Lourenço de Mamporcão.
O meu
pai, levantou-se do banco da cozinha onde tinha comido uma tigela de
caldo com sopas de pão branco, endireitou-se, limpou a boca à manga do
casaco de cotim já gasto e disse:
- Anda Samuel,
está na hora de aprenderes a arte. Com a tua idade já eu preparava o barro e
moldava os animais. Traz umas maçãs da tulha e calça os tamancos.
- Mas, meu
pai, eu gosto é da música. Hoje, mesmo, ía ter com o tio Anselmo para dar uma
voltas no cavaco dele. E então?
- Então deixas
para outro dia. Despacha-te que tenho obra a aprontar e tu vais-me ajudar, que
o Natal está aí.
Percorremos os
dois o longo serro da Ossa, a caminho da oficina donde saía o sustento da nossa
família. O meu pai pôs-me um avental, entregou-me um pedaço de barro,
mostrou-me os toscos desenhos em papel pardo amassado e ordenou:
- Destes galos
fazes três, e a seguir duas ovelhas; os chapéus dos pastores também.
E, em pouco
tempo, ainda estava eu a debater-me com as pernas do primeiro galo e já meu pai
tinha o presépio montado, com arco bizantino, os pais do menino e os figurantes
que os visitavam, tudo isto meio pagão, meio cristão, encomenda dos Cortês para
oferta ao Sr. Presidente da Câmara.
- Anda daí,
rapaz. O forno está à espera!
..../....
Prímula Matinal
Escrita neo-realista - um primor!
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