domingo, 31 de janeiro de 2016

TIC-TAC


Pertenceu a um genuíno Mirandês, que despontou para a esta vida na segunda metade do século XIX na Freguesia de Santa Maria Maior, bem no coração de Miranda do Douro, este medidor portátil do tempo, tal qual  “Ovo de Nuremberg”, que jurou fidelidade a seu Amo.
Por detrás das janelas da Rua da Alfandega, entre as rendadas cortinas, e após o almoço, as donzelas da cidade espreitavam o elegante e sedutor Delegado da Fazenda Pública que, após saboroso repasto, diariamente e a passo apressado, atalhava caminho até ao Largo do Cruzeiro. No número 38 habitava uma, de perfil mais atrevido, que lá ia dizendo em perfeito mirandês : “Buonas tardes Senhor Moço! Mie bó te Cumbida à buber una copa de bino fino e manducar bolha doce, deimingo pela tardinha…”. Ruborizado acenava sinalizando apenas agradecimento. Na verdade, aquela que lhe fazia palpitar o coração distava um dia de galope, lá para os lados de Mirandela.
Figura de médio porte, sempre bem ataviado, de casaca, colete e calças, com albinas camisas e sedosas gravatas, lustrosas botas pontiagudas e a indispensável cartola sobre o ondulado cabelo castanho, rosto ovalado onde sobressaiam uns olhos esverdeados e um sorriso contagiante, nunca enveredou pela moda das barbas, mas um farto bigode fazia jus àquilo porque era conhecido : um dos solteiros de ouro das Terras de Miranda.
De ouro era também o “Longines” de fabrico suíço, com as suas iniciais gravadas – Rodolpho Adriano de Faria - peça crucial na sua indumentária, que nunca abandonou, mesmo nos gélidos meses do rigoroso inverno em que trocava a casaca pela capa de burel.
Nunca avariou… Ora escutem o tic-tac!


A Gallega de Castro


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